quarta-feira, novembro 29, 2006

A grande ruptura

Se existe momento para repensar o modo como toda a indústria do turismo em Portugal está a operar é este o momento. Hoje, sem dúvida, estamos no início de uma nova ruptura que surge após um longo período de dez anos, momento em que um novo canal de distribuição, a Internet, passou a fazer parte integrante do modelo de negócio.

A indústria do Turismo é uma indústria muito particular, provavelmente com o maior número de variáveis que rapidamente poderão levar ao nosso sucesso como ao completo fracasso. É ser uma indústria totalmente virada para os serviços, e obrigatoriamente focada para o consumidor. Pelo menos deverá ser este o caminho.

O consumidor parte de uma posição neutra. Todos os intervenientes, sejam eles agências, hotéis, aviação, restauração ou outros, têm de repensar no modo como valorizam o seu serviço e a sua relação de forma a criar o seu cliente ideal. É fundamental gerir as suas expectativas e saber ouvir. É fundamental ganhar um cliente e não uma simples venda.

Por onde começar?

As pessoas. Escusado será dizer que são o maior activo que uma empresa de serviços possui. É essencial requalificar, pagar melhor e motivar para que dominem o que vendem e tenham orgulho do que fazem. Ter profissionais que optam pelo turismo simplesmente porque necessitam de um emprego temporário “até arranjar melhor”, ou aplicar a eterno pretexto que em turismo os ordenados são baixos é o princípio a ser mudado. A qualidade tem de ser paga e baixando o “turn-over” vai aumentar os níveis de relação entre os profissionais, a empresa e os seus clientes. Uma mais valia para as empresas será sempre uma mais valia para os clientes.

A tecnologia. O surgimento do “social-networking” com ênfase cada vez maior nas mais variadas faixas etárias e classes sociais, enquadrado na nova geração de serviços na Internet , já apelidada de Web 2.0, é algo que se tem de estar atento e activo. Os consumidores são cada vez mais informados. Partilham informação e recolhem dados. Eles são os novos agentes de viagem e até os próximos operadores turísticos. Tudo pelo simples prazer de partilhar informação. Se para alguns poderá ser uma ameaça, essencialmente em nichos de mercado que os valorizam pela informação e experiência que possuem, é a maior oportunidade de sempre. Finalmente os consumidores poderão fazer parte de uma marca e sentirem-se ligados à mesma participando na sua construção. É o novo desafio na fidelização. No entanto quem não ficar atento poderá ter as suas consequências.

A comunicação. Em primeiro lugar é importante não esquecer que o consumidor evoluiu. Tem acesso a todos os preços, tem possibilidade de orçamentar praticamente todos os serviços por ele próprio e até reservar. A segurança que ele depositava nos intervenientes, sejam eles agências e operadores, está consequentemente a diminuir. O desafio passa por ganhar de novo a confiança. Suplementos, taxas, classes de reserva, alojamentos demasiado standard ou sempre completos sem disponibilidade, são argumentos mais que suficientes que leva que todo o investimento na comunicação efectuada se desvalorize e seja ineficaz. Outro lado importante na comunicação é focar nos segmentos. Cada vez é mais fácil ouvir o consumidor, segmentá-lo e oferecer-lhe de facto o que se enquadra no que pretende. Não só é uma forma muito eficaz de o fidelizar como também de gerir as suas expectativas e assim controlar todas as variáveis que envolvem o serviço proposto.

É fundamental ser obcecado pelo cliente. É importante abordá-lo de diferentes frentes – segmentação e criação de grupos alvo e desenvolvimento de uma relação contínua, usando a tecnologia e recursos humanos motivados.

quinta-feira, novembro 16, 2006

Turismo 2.0 *

A indústria do turismo está de novo a mudar radicalmente desde a primeira vaga, altura em que começou usar a Internet como meio integrante da sua estratégia. Desde 1995, ano caracterizado pela mudança do modelo tradicional de reservas para um modelo on-line, toda a evolução representou uma das mais rápidas ascensões de negócios na Internet, dominada por um principio fundamental: oferecer o melhor preço, sempre garantido e de forma imediata, de um modo sempre disponível 24 horas, 7 dias por semana.

De facto o preço ao longo dos últimos 10 anos foi o factor decisivo para o sucesso, e se hoje em dia ainda é importante, outros factores desafiam a sua influência levando-nos a uma nova direcção.

Um novo modelo de negociação designado por ‘customer-to-costumer’ (C2C), é simplesmente o indício do que está a suceder no mundo on-line, facilmente identificado em sites de leilões como o E-bay. No entanto continua a evoluir e levando-nos também a identificar um novo modelo de consumidor, consolidando uma nova tendência fomentada por blogs, podcasts , videocasts, mashups e o ‘social networking’. Estes são a pura descrição, em conjunto com outras tecnologias da nova geração Web 2.0, que permitem ao consumidor ter em seu poder uma quantidade de informação nunca antes acessível e ainda mais importante, ter acesso a formas fáceis de publicar o seu conhecimento e experiência sobre qualquer assunto e para qualquer pessoa, em qualquer lugar do mundo.

Por exemplo, sites como o TripAdvisor (www.tripadvisor.com) e o IgoUgo (www.igougo.com), que já se encontram entre nós há já alguns anos, enfrentam sites de nova geração, como o Tagzania (www.tagzania.com) que não só permitem aos viajantes marcar os seus locais favoritos como lançá-los em mapas classificando-os por etiquetas (tags), relacioná-los com informação que recolheram noutros sites e até adicionando os seus próprios comentários. Levando os viajantes a ter informação mais detalhada combinada com anotações pessoais, referências e classificações geradas pelos vários utilizadores , é possível apresentar informação actualizada e mais próxima da realidade que ela representa. Empresas como a cadeia de hotéis Sheraton (www.sheraton.com ), começam a compreender esta evolução e elas próprias se reinventam no método de comunicar e vender o seu produto directamente, focando a sua presença na Internet na informação gerada pelos seus clientes.

Quando transportando a base dos conceitos apresentados para a industria do turismo, qualquer um pode ser agente de viagens ou até operador turístico. Este novo perfil de consumidor, que poderemos designar por consumidor 2.0, é sustentado por 4 pilares fundamentais : busca, conteúdo, comunidade e personalização.

Paralelamente a todo este processo, sites como Expedia (www.expedia.com) viram este ano o seu lucro cair mais de 28%, sendo a principal razão as reservas directamente efectuadas nos sites dos hotéis e das companhias aéreas. Uma das possíveis leituras foca no eficaz desenvolvimento do canal on-line que individualmente os fornecedores directos, sejam eles hotéis, companhias aéreas ou empresas de actividades e excursões, já atingiriam como também as mudanças que todo este novo modelo 2.0 está a criar.

Se ainda está por determinar qual o verdadeiro impacto nos vários sectores da indústria de turismo, está claro no entanto que o papel de qualquer intermediário está a ser desafiado pelo conteúdo gerado pelos vários consumidores como também pelo diálogo constante e transparente que ocorre nos variados sites. É claro também que surgem novas oportunidades de negócio, tornando o já conhecido “passa-palavra” para um ainda mais evoluído “passa-o-rato” (do inglês ‘word of mouth’/’ word of mouse’), sabendo agora que é o consumidor que controla e todo o esforço será compensado para quem souber estabelecer uma conversação com ele.

* O termo Turismo 2.0 (do inglês Travel 2.0) foi originalmente apresentado por Philip C. Wolf presidente e CEO da PhoCusWright Inc, uma empresa Norte Americana, quando relacionando o negócio on-line da indústria do turismo à nova geração de serviços baseados na Internet, denominada Web 2.0.

segunda-feira, setembro 11, 2006

Férias de Verão (com)prometidas

O turista que visita um destino, e não o viajante que o percorre, pretende que o local para o qual juntou dinheiro ao longo de um ano de trabalho seja perfeito. Procura também a forma mais rápida e barata de chegar. Muitas vezes a escolha é motivada através do aconselhamento do seu agente de viagens e claro pela opinião de amigos, outras simplesmente pelo impulso de uma fotografia ou de um programa de televisão.

O turista das férias de Verão também não quer estar sujeito a variáveis que comprometam as suas merecidas férias, sejam estas atrasos nos voos, cancelamentos, mau tempo, comida de menor qualidade ou um empregado de mesa menos agradável.

É importante reter que este tipo de cliente confia aquela semana, que mais espera ao longo do ano inteiro, aos profissionais do turismo que lhe preparam a operação. Estes, a seu ver, deverão obviamente possuir um forte conhecimento do destino, pois escolheram os melhores hotéis, prepararam a melhor assistência local, e claro que fretaram o avião que especialmente o levará nas tão esperadas férias. Confia também que tudo isto, após ter a documentação na sua mão e a viagem paga, vai acontecer sem percalços de maior, de preferência até sem nenhuns, de acordo com o programa previsto e impresso na brochura.

Infelizmente, as operações que não assentam em aviação regular estão na sua maioria sujeitas à taxa de ocupação do voo respectivo sendo por vezes canceladas em cima da data de partida. A necessidade foca fundamentalmente nos lugares que não foram ocupados em vez dos lugares já teriam turistas ansiosos pelas suas férias, já pagas e fortemente anunciadas a colegas, amigos e família.

Por muitas desculpas que ocorram, nenhuma compensa o turista que hoje em dia tem acesso a toda a informação, que consulta os principais sites na Internet, seja para se informar da meteorologia, de hábitos locais, da sua segurança pessoal ou até à necessidade de visto. A verdade é que surge a imediata perda de confiança no operador, na operação fretada e por fim no próprio destino, que ficará marcado para época seguinte como um destino que poderá sofrer do mesmo mal, repetidamente. De facto resume-se a um único ponto: a promessa não foi cumprida.

Se muitos viajantes já criam e marcam as suas próprias férias on-line e directamente em hotéis e companhias aéreas, a sucessiva perda de confiança em operações montadas sobre aviação charter, levará num futuro próximo, a que o próprio turista de férias de Verão se aventure - este certamente deixará também de efectuar as suas férias através das agências e dos programas preparados pelos operadores.

Mais do que gerir a qualidade de uma operação, seja ela para um destino nacional ou para o local mais remoto do mundo, é fundamental gerir as expectativas e cumprir com a promessa das férias contratadas. O risco de nunca mais recuperar aqueles lugares outrora vendidos, ocorre também com os outros que o poderiam ter sido posteriormente, através dos amigos curiosos pela mesma experiência, agentes de viagens motivados e da generalização de um novo destino, que necessitaria de mais do que um ano de operação para se massificar.

terça-feira, julho 18, 2006

As milhas da discórdia

Nunca se pensaria ser possível ganhar milhas para voos gratuitos e upgrades de classe, além do acesso aos lounges, sem nunca ter voado. A verdade é que a oferta de milhas já não se resume unicamente ao viajar de avião – basta fazer bastantes compras com cartão de crédito, alugar viaturas, reservar alojamento hoteleiro ou até meter gasolina no carro para o passeio de fim de semana.

Os passageiros frequentes têm de facto razão para estarem descontentes, pois aquilo pelo que eram reconhecidos passou a ser válido para qualquer consumidor. O valor da sua lealdade a uma companhia aérea ou aliança simplesmente deixou de ser reconhecido.


Ou talvez não…

Várias dezenas de programas de milhas estão a ser repensados e muitos já evoluíram de forma a reconhecer um verdadeiro passageiro frequente, uma separação que focou num ponto simples: quem compra de facto um bilhete de avião tem de ser recompensado.

Desta forma criaram-se dois níveis, distinguindo os passageiros fieis dos que um dia poderão ser fieis.

A realidade que ocorre neste momento com milhas é uma antevisão da realidade que se passa com outros programas de fidelização, pois não basta ter um cartão nem contextualizar o modelo que procura criar a relação com o consumidor. É fundamental reconhecer o verdadeiro cliente.

terça-feira, maio 09, 2006

E-Mail de Q.I. Aumentado

Hoje em dia é praticamente possível afirmar que o envio de um único e-mail genérico, para todo um conjunto de utilizadores registados, tem os seus dias contados. Com a possibilidade de captar e registar os gostos e atitudes de um consumidor face a várias propostas comerciais, seja num site na Internet ou através de um sistema de fidelização, o e-mail é cada vez mais um instrumento para uma comunicação altamente segmentada e permanente.

Embora óbvio, é fundamental relembrar que o uso inteligente da análise de interesses do cliente e consequente apresentação de propostas geram, definitivamente, o aumento de vendas.

Por exemplo, a constante verificação de alterações significativas nas tarifas das companhias aéreas nas mais variadas rotas, pode dar origem a um alerta aos utilizadores que tenham demonstrado interesse nessas mesmas rotas, mas que não tenham comprado. Este mesmo exemplo poderá ser aplicado para uma cadeia de hotéis, com a oferta de serviços ou alojamento em datas nas quais o utilizador procurou disponibilidade ou até operadores turísticos, com programas de férias e promoções de destinos por ele procurados.

Afinal ninguém quer perder uma boa oportunidade de negócio!

Já não são novidade as capacidades tecnológicas possíveis de aplicar numa acção de e-mail marketing e também na obtenção de gostos de um utilizador – muitas lojas on-line já o fazem há bastante tempo. Torna-se no entanto fundamental criar um modelo inteligente, baseado em resultados analisados, que possibilite a correcta utilização e medição de sucesso. Um pormenor tão elementar como a hora do envio de uma mensagem, pode determinar o êxito da sua leitura e consequente acção.

A oferta tem de ser relevante, direccionada ao “target” exacto e no momento certo, tendo de apresentar uma clara mais valia para quem a recebe.

O estudo exaustivo e detalhado de dados recolhidos, ao nível do que se faria para comunicação mais tradicional, permitirá obter informação clara para atingir retorno no investimento. Associado a aplicações de CRM (costumer relationship management) representarão um resultado justificado, muitas vezes questionado neste tipo de estratégias. Tudo se resume a aumentar o Q.I. ao e-mail.

sexta-feira, abril 07, 2006

Férias reais em locais virtuais

O uso das últimas tecnologias de fotocomposição digital para criar árvores onde não existem, praias em zonas de rocha, apresentar quartos maiores do que são e mostrar infra-estruturas que nunca saíram do projecto, são estratégias que poderão a curto prazo ajudar a venda de mais quartos. Não cumprem contudo a promessa proposta, e muito provavelmente o cliente não irá voltar, correndo também o grave risco do mesmo opinar negativamente nos variados sites de Internet que existem sobre viagens, para não falar de um pedido de reembolso.

E se há alguns anos estas opiniões não iam muito longe e eram vagamente valorizadas, hoje em dia são muitos os viajantes que lhe dão importância. A informação partilhada por outros viajantes, em locais como o Trip Advisor, que são a referência principal do futuro cliente – mais do que a brochura com bonitas fotografias.

É caso para dizer que o crime não compensa.

quinta-feira, fevereiro 16, 2006

O paraíso nas Caraíbas

Era uma vez um hotel simpaticamente plantado numa ilha das Caraíbas. O seu proprietário, nascido e criado nessa mesma ilha, decidiu apostar em altos quadros, das grandes cidades dos países vizinhos, para seus clientes. A proposta era simples, prometendo umas férias relaxadas em frente à praia, sem telefones nem televisão, só uma piña-colada e uma cama de rede. A imagem transmitida, no seu site e na publicidade em revistas da especialidade, era de uma praia tropical com um mar azul turquês, completamente rodeada de palmeiras. Era o paraíso prometido para quem passou praticamente o ano inteiro a trabalhar dentro de um escritório sem ver a luz do dia.

Em termos operacionais, a chegada dos clientes ao hotel era sempre feita pela entrada de serviço. De facto era o único acesso. Na óptica do dono, era uma boa entrada pois era alcatroada, de fácil acesso à recepção e à estrutura do hotel. Era também uma óptima entrada para o staff, para os fornecedores e para o camião do lixo. Esta óptima solução falhou no entanto devido a um pormenor - deitava por terra todas as expectativas criadas pelos seus clientes sobre o local. O impacto negativo criado à chegada, pelo modo como os clientes eram confrontados pela porta de serviço, levou a variadas reclamações. Mas a praia estava lá, tal como as palmeiras e todo o ambiente proposto, algo que o proprietário não compreendia. No entanto a sensação de paraíso perdia-se logo à chegada.

O dono do hotel, como sempre viveu neste local, não se apercebeu que a sua ideia de acesso fácil era afinal o que deitava abaixo, por completo, toda a sua comunicação – a promessa não era cumprida e o primeiro impacto, que restaria para toda a estadia dos seus clientes, era negativo.
Após atender aos vários comentários dos hóspedes, surgiu a alternativa através da criação de uma pequena estrada que passou a ir até à praia, pela qual se entra directamente à recepção disfrutando de imediato todo o esplendor publicitado.

Num produto turístico o compromisso de corresponder à expectativa apresentada é, sem dúvida, o factor fundamental para a partilha de uma experiência e até para a própria repetição, que não pode ser negligenciado. Muitos responsáveis estão de tal modo envolvidos no seu dia-a-dia, que os “pequenos pormenores” podem, quando negligenciados, representar o sucesso de um projecto.